quinta-feira, 25 de março de 2010

Alugam-se verdades.

Ela sabia que as promessas desenterradas do fundo do baú ainda brilhavam como se tivessem acabado de serem escritas, porém seu brilho só apareceria mesmo se a poeira que as cobria fosse retirada. E aí, quem o faria?
Ela tinha vontade. Seu orgulho era minúsculo e chegava ao ponto de faltar amor próprio as suas atitudes, por isso dessa vez resolveu imitá-lo.
Ele era de lua. Ora a deixava iluminada, ora se fazia indiferente, e na maioria das vezes ausente. Talvez ele não tivesse consciência do quanto ela o adorava, de verdade; e talvez por isso ficasse estranho repentinamente. Ela sofria.. e o tempo que não passava?
Depois que os ponteiros do relógio cansaram de ficar parados, voltaram a girar e foram então aos poucos fazendo com que as dúvidas que a atormentavam fossem andando junto com eles. Finalmente, ela cansou de brincar de ser ele e resolveu recuperar sua personalidade bem a tempo das palavras não pararem de brilhar. Pegou um pano e utilizou lágrimas como forma de umedecê-lo, foi fácil chorar. Mas à medida que limpava o baú, percebia que as promessas dele haviam tornado-se maiores, estavam unidas numa só, uma jura. Pegou-as com cuidado e involuntariamente começou a chorar mais ainda: você sempre vai ser única pra mim, meu bem.
Dessa vez ele havia acertado direitinho em que promessa fazer, e em como fazê-la. Ele não é constante, mas ela sempre vai adorá-lo ainda assim. Saiu correndo, desejando atravessar as ruas que os separavam e achar lá no final aquele abraço apertado que só ele tinha.
Conseguiu, acordou abraçada com seu travesseiro.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Parte II - Fireflies.

Uma luz. Milhares de luzes.
Mudaram de lugar sem ao menos esperar o vento passar..
Para onde foram?
Tentei segui-las mas foi em vão,
os insetos voaram sem direção,
e quando percebi, não os via mais por ali.
E aí o vento veio,
trouxe palavras e um sorriso encantador,
que no fundo não passava de enganador,
como qualquer faísca que venha do fundo,
não fica acesa nem por um segundo.
Pena foi acreditar, que aquilo ia mudar..
Mas o escuro não muda,
é melhor esperar a energia voltar,
e torcer para até lá a chama da vela não me queimar.

terça-feira, 9 de março de 2010

Medo do claro.

Apagaram as luzes. Ainda que estivesse tudo escuro e eu nada conseguisse enxergar, fechei os olhos. Peguei o primeiro objeto que encontrei ao meu alcance, uma almofada. Mesmo sabendo do que se tratava resolvi imaginar o que aquilo poderia ser. Pensei em um sapato, em um vidro de perfume, numa pessoa. Mas ao final de tudo só a figura de uma almofada me vinha à cabeça. Não sei se por falta de criatividade ou direcionamento da imagem, não conseguia mudar meus pensamentos. Uma almofada. Conheço cada aresta e vértice do meu quarto perfeitamente bem, e talvez por isso tivesse tanta certeza do que guardava em meus braços.. porém, certezas nem sempre são de fato certas. Ninguém tem medo do que é conhecido, e o seu contrário é sempre o vilão da história. Há curiosidade sobre o incerto, mas não adianta dizer que o medo não prevalece. É verdade que surpresas desagradáveis podem acontecer, mas, por outro lado, bem próximo a você pode estar um grande tesouro trazido e conservado pelo passar dos anos e devido a escuridão que é o desconhecido, não é percebido.
Acenderam as luzes, e que surpresa. O que tinha nas mãos não era um almofada e sim um pedaço de uma nuvem que peguei em um de meus sonhos quando fui até o céu. Como se não bastasse as aparências sempre me enganarem, apagaram as luzes, de novo. Mas dessa vez, acenderam meus pensamentos.

domingo, 7 de março de 2010

Assalto.

Se fui chata, desculpe-me. Não percebi que não parei de falar um segundo sequer. Durante o jantar, consegui contar minha vida toda e ainda algumas previsões futuras, um feito e tanto. Intimidada ou com medo do que pudesse (ou não) acontecer, preferi me certificar que você saberia em que terreno estava pisando. Sendo assim, posso considerar que foi de propósito que começou a me roubar. Os dias que se passaram só deixaram mais evidente tudo aquilo que eu já suspeitava e passava a aceitar; é que eu até posso não conseguir roubar muita coisa sua, mas dizem que os melhores sorrisos (e beijos) são aqueles que são roubados.
E a verdade é que eu tenho alguns já prontos só esperando que você os roube, a qualquer hora.